Por Matt Kaeberlein
Publicação Original: Época Negócios
Compreender melhor os mecanismos de envelhecimento por meio da pesquisa em cães pode levar a intervenções mais eficazes e econômicas que prolonguem a boa saúde na velhice
Não é de hoje que a longevidade é um desejo da humanidade. O sonho de Peter Pan, daquela jovialidade eterna, nos estimula a querermos viver mais e melhor. Mas o tão almejado “jovem para sempre” está longe de ser uma realidade. E é nesse contexto que a ciência avança, para proporcionar mais saúde, mobilidade, cognição e, por consequência, o retardo dos sintomas da velhice. Esse “passar de anos” reflete não só para nós, humanos. Como todo e bom melhor amigo, os cães estão ao nosso lado também nesse momento, sofrendo das mesmas consequências da degeneração celular. É justamente por eles conviverem no mesmo ambiente que nós e responderem de forma muito parecida à chegada da melhor idade que é valiosa a ciência que apoia a longevidade canina, que pode também revolucionar nossa compreensão sobre viver mais e melhor.
O estudo da longevidade canina envolve uma análise profunda dos processos biológicos que impactam o envelhecimento, como genética e variáveis ambientais, por exemplo. Assim como com os humanos, cada cão é único e exibirá sinais de velhice diferentes ao atingir o status de idoso. Alguns apresentarão mudanças físicas, como lentidão, olhos turvos e sentidos letárgicos. Outros podem apresentar mudanças comportamentais, como aumento de ansiedade ou desorientação.
A singularidade surge até mesmo nas raças. Cães maiores, como os dogues alemães, parecem envelhecer mais rápido e se tornam idosos já aos seis ou sete anos, enquanto cães menores podem levar nove ou dez anos para começar a mostrar sinais. Então, se pudermos entender melhor como o corpo envelhece, podemos investigar intervenções que ajudem a retardar o processo de envelhecimento, que podem variar desde uma pílula antienvelhecimento até mudanças no estilo de vida.
Por isso cães de estimação se tornam um modelo comparativo precioso por três motivos que abordarei separadamente nestes mais de dez anos estudando a longevidade canina: nossa biologia compartilhada, ambiente em comum e vida útil significativamente mais curta.
Cães e humanos compartilham mais de 17 mil genes especiais chamados ortólogos. Cada par de ortólogos é derivado do mesmo ancestral comum por descendência vertical (espécies) e tende a ter funções semelhantes. Temos inúmeras semelhanças até mesmo nos genes. Por vezes, os efeitos são idênticos, como é o caso da EPAS1, um gene desencadeado por condições de baixo oxigênio. Pessoas que vivem no Planalto Tibetano e as linhagens de cães que se desenvolveram lá possuem a mesma mudança genética neste gene, que ocorreu para ajudar nas respostas do corpo aos baixos níveis de oxigênio em grandes altitudes.
Também temos genes parecidos, que não são idênticos, mas influenciam a saúde e a longevidade. A título de exemplo, podemos observar a variação nos genes que regulam o fator de crescimento, semelhante à insulina 1 (IGF1), que intervêm no tamanho corporal e no risco de câncer em cães e humanos. Esta via também é um regulador crítico da longevidade em todo o reino animal. Compreender essas conexões genéticas ajuda a estudar e, potencialmente, tratar condições de saúde compartilhadas entre espécies.